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"Colaborador do Grupo Redentor se destaca por suas habilidades como pintor e é homenageado com uma matéria descrevendo sua trajetória profissional e artística."
Rodoviário há 25 anos, motorista há quase 10 e artista desde sempre
Aos cinco anos de idade, ele foi visitar a praia da Barra da
Tijuca e para chegar até lá era preciso atravessar em um barco. Quando voltou pra casa, a
imagem do barco ainda estava presente em sua mente. Então, ele pôs-se a desenhar aquele
barquinho. Essa é a primeira lembrança que o motorista da Transportes Futuro, André Luís
Ferreira Paiva, 59 anos, tem da descoberta do seu dom para o desenho e a
pintura.
Depois, ainda na infância, ele
começou a
desenhar personagens do Walt Disney, Hanna-Barbera, Warner Bros, entre outros. Na
adolescência, aos 14 anos, começou a reproduzir capas de disco de Rock. Foi quando
conheceu
o trabalho de alguns grandes ilustradores e pintores, como: Frank Frazetta, ilustrador
americano de ficção científica e fantasia, que fez, além de pinturas e personagens, como
Conan, capas de livros e de discos; Roger Dean, inglês que desenhou para bandas como
Yes, e
o peruano Boris Vallejo, que ilustrou capas de revistas e jogos.
“Finalmente, depois de um tempo, dei de cara com Salvador Dalí, que era surrealista.
Fiquei
encantado com o trabalho daqueles artistas, fascinado. Queria aprender mais. E, em 1980,
resolvi pintar meu primeiro quadro, baseado num postal que recebi de uma amiga que
estava na
Europa”, conta André. Na época, ainda não dominava nenhuma técnica. “Usei tinta óleo
para
pintar o quadro. A primeira secagem é complicada, leva semanas. Na verdade, a tinta óleo
não
seca, ela oxida”, ensina.
Aprender mais e mais
André sabia que precisava aprender mais e mais. Não tinha muito escolha. Era um dom,
um
talento que não podia ser desperdiçado. “Eu não fui atrás da pintura, a pintura é que
veio
atrás de mim”, diz. Matriculou-se num curso de técnicas de sombra e luz. “Nesse curso,
fiz
vernissage. E quanto mais exposições a gente tiver, passa a ser mais conhecido. Nessa
época,
eu já estava trabalhando como cobrador e o tempo para me dedicar a pintura era curto.
Normalmente, pinto durante minhas folgas”, conta. O motorista revela que já participou
de
várias exposições e que seu estilo de pintura é livre. Ele também integra um grupo
virtual
de pintores que troca experiências e se ajuda mutuamente. “Quando entro num campo que
não
domingo, peço ajuda. Porque tem muita técnica, tem técnica pra tudo. Algumas vezes até
passo
o trabalho adiante, quando não domino a técnica”.
Apesar de ter começado a pintar cedo, foi somente em 2000 que começou a vender seus
quadros,
já na primeira exposição que fez. “Vendi logo de cara. Me lembro que foi a foto de uma
baronesa”. Atualmente, André pinta quadros por encomenda e, normalmente, utiliza
fotografias
fornecidas pelos clientes como modelo para suas obras. “Sempre aprece alguém querendo
que eu
pinte um animal, uma paisagem, um filho, uma casa que gosta ou até mesmo que faça uma
releitura de algum quadro”. O valor, ele explica, depende da complexidade do trabalho e
não
do tamanho do quadro, e o tempo que o artista leva para finalizar uma obra é em média um
mês. “Demoro um pouco porque não tenho muito tempo livre para pintar”,
revela.
Sua divulgação acontece através do boca-a-boca. Um cliente indica outro, que indica mais
um,
e assim por diante.
De cobrador a motorista
O trabalho como rodoviário começou há 25 anos. “Eu estava trabalhando como camelô e
apareceu
a oportunidade de me candidatar a uma vaga de cobrador, no Grupo Redentor. Fiquei 16
anos
como cobrador e gostava do meu trabalho, porque gosto de conversar, de lidar com o
público,
gosto de comunicação. Foi um período maravilhoso da minha vida. Mas, quando a função
começou
a entrar em ‘extinção’, resolvi passar para motorista. Eu não sabia dirigir, fui
aprender já
com 50 anos e me encontrei na profissão. Eu já tinha a prática de dar troco e não foi
difícil conciliar com a direção”. No Grupo Redentor, André Luís começou na Litoral
Transportes e depois foi transferido para a Transporte Futuro, onde atualmente atende os
passageiros da linha 550 (Cidade de Deus x Gávea).
A pintura funciona para ele como uma válvula de escape, uma terapia ocupacional.
“Quando eu
estou estressado, tenso, porque o trânsito te deixa tenso, eu pego um quadro para
pintar,
para extravasar. E assim é a vida. Se não tiver um hobby, um amigo, um padre, um pastor
para
conversar sobre suas ansiedades, seus medos, você pira. Você tem que ter uma atividade,
além
de trabalhar; vai pescar, jogar, qualquer coisa. Senão você se torna uma bomba
ambulante”,
afirma. “Eu trabalho há 25 anos em ônibus e todas as pessoas que param para conversar
comigo
querem apenas desabafar. Você escuta muita história e vê muita coisa também no ônibus.
Eu
até pretendo lançar um livro de histórias que vivi dentro do ônibus; já tenho umas 50
histórias para colocar nesse livro”, revela.
Casal da colorimetria
Casado há 14 anos com a cabeleireira Rosinete Galdino da Silva Paiva, 53 anos, esse
morador
do Itanhangá, conheceu a esposa dentro do ônibus, através de um amigo. “Ela é a mulher
mais
linda do mundo, a mulher da minha vida”, diz. A esposa montou um salão em casa e
enquanto
André pinta seus quadros, ela pinta os cabelos das clientes. “É ela na colorimetria dela
e
eu na minha”, diz o motorista. O casal não tem filhos, mas André tem uma filha de um
relacionamento anterior. Ana Clara Rocha Paiva está se formando na faculdade de design
gráfico. “Ela desenha melhor e mais rápido do que eu. Só que ela faz o desenho no
computador. Minha mãe também era artista, pintava em gesso. A tia dela também é
desenhista.
Então tá no DNA dos dois lados”, diz o pai orgulhoso.
André Luís nutre o sonho de ter uma casa maior para montar seu estúdio de pintura.
Outro
sonho, além de ver a filha se formar, é publicar o seu livro com as histórias que viu e
ouviu dentro do ônibus ao longo de seus 25 anos de rodoviário. Seu segredo para ser um
bom
profissional é fazer o trabalho com amor. “Nunca faça nada por dinheiro, mas faça por
amor”,
ensina.
Quem quiser encomendar um quadro desse artista das telas e do volante, pode entrar em
contato
com ele pelo Whatsapp (21) 98396-1322.
(Matéria vinculada no site Portal do Rodoviário de 23/07/2022)